sábado, 23 de março de 2013

Estou aqui a ver o telejornal...

E vejo a euforia. Palpável, corpórea, electrizante. 
Por um lado, as ratazanas estão acossadas, aflitas,  congeminam, falam umas com as outras com os seus narizinhos cinzentos e as suas patinhas cor-de-rosa a tocar-se, aguardam ansiosas a decisão do Conclave da Constituição. A decisão que paira qual machadinho sobre as ratazanas. Mas essa, é uma decisão que demora muito tempo. É uma decisão muito difícil, exige muito estudo, muita inteligência, uúuúuúuú, exige rezas, a intervenção divina e a aparição do espírito santo a folhear, sereno, uma Constituição da República. Enquanto isso, os aranhiços começaram a crescer, a aquartelar, a rodear as ratazanas, já mandaram vir o general Big Nose do exílio, aparecem todos a andar muito depressa para fingir que estão muito ocupados, que estão a tratar de assuntos muito importantes, ininteligíveis para nós, os humanos. Falam todos, falam muito, dizem palavras, muitas palavras. Estão em todo o lado para provar que têm o dom da ubiquidade. O Seguranhiço ganhou vivacidade, parece agora um aranhiço numa leguminosa selvagem, daquelas arrumadinhas no supermercado na secção dos frescos, cheio de orvalho da madrugada. Aparece e desaparece como um Luís de Matos. Ora está em Campomaior, ora no Porto, em Viseu, em Lisboa.
- É magia! Gritamos nós aqui da Idade Média a assistir ao espectáculo.
E as ratazanas, com os seus dentinhos aguçados, roem as teia aos aranhiços, franzem os focinhos e  balançam as caudas sobranceiras, mas os aranhiços estão mesmo ali, à janela, atentos, a espreitar, com olhinhos vermelhos e cintilantes, a tecer afanosamente as suas teias, armadilhas mortais, à espera da primeira oportunidade para entrar por ali a dentro e tomar posse do que era deles. 

Enquanto isso, o país definha... mas, na verdade, isso é o que menos interessa...

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